Doenças tropicais negligenciadas: OPAS pede fim dos atrasos no tratamento nas Américas

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Condições evitáveis e tratáveis estão quase ausentes da agenda global de saúde, com pouca atenção e financiamento

Washington, D.C., 28 de janeiro de 2021 (OPAS) – Às vésperas do primeiro Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) pede aos governos que prestem atenção integral e universal aos milhões de pessoas afetadas por essas enfermidades relacionadas à pobreza nas Américas.

Hanseníase, dengue, leishmaniose, esquistossomose, raiva humana transmitida por cães, escabiose (sarna), doença de Chagas, parasitoses intestinais e tracoma são algumas das mais de 20 patologias presentes na região – onde também são conhecidas como doenças infecciosas negligenciadas – que põem em risco mais de 200 milhões de pessoas.

"Prevenir e tratar essas doenças tem custo-benefício. As estratégias para combatê-las incluem aproximar a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das comunidades vulneráveis, além de melhorar suas condições de vida, como acesso à educação, água potável, saneamento básico e moradia", disse Marcos Espinal, diretor de Doenças Transmissíveis e Determinantes Ambientais da Saúde da OPAS.

O Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas foi instituído em 2020 pela Assembleia Mundial da Saúde e é celebrado em 30 de janeiro. O tema deste ano é "Alcançar a equidade em saúde para acabar com a negligência com as doenças relacionadas à pobreza".

A pandemia de COVID-19 interrompeu intervenções e programas de eliminação dessas doenças nas Américas, como campanhas de administração de medicamentos em massa, pesquisas e rastreamento ativo de casos. A maioria foi cancelada em 2020 e retomada gradualmente em 2021. A OPAS alerta que essas interrupções podem atrasar a eliminação ou o controle de algumas dessas enfermidades além dos prazos propostos pré-pandemia.

A OPAS vem apoiando os países para fortalecer a implementação, monitoramento e avaliação de programas para controlar e eliminar as doenças tropicais negligenciadas por meio de cooperação técnica, desenvolvimento de diretrizes e capacitação, bem como por meio da doação de medicamentos e outras ferramentas médicas, como testes diagnósticos.

A Organização também possui uma nova iniciativa para eliminar cerca de 30 doenças infecciosas e condições relacionadas até 2030.

Com o apoio da OPAS, OMS e outros parceiros, a região alcançou vários marcos no combate às doenças tropicais negligenciadas. Em 2013, a Colômbia se tornou o primeiro país do mundo a eliminar a oncocercose, uma doença parasitária que pode levar à cegueira. Equador, Guatemala e México seguiram o mesmo caminho e, atualmente, há apenas um foco remanescente de oncocercose em nível regional na fronteira entre Brasil e Venezuela.

Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago já puseram fim à filariose linfática, conhecida como elefantíase por causa do espessamento característico dos membros. Brasil, Guiana, Haiti e República Dominicana caminham para a eliminação da doença.

O México pôs fim à raiva humana transmitida por cães e ao tracoma como problema de saúde pública. A Guatemala está prestes a eliminar o tracoma e vários países do Caribe devem ver a eliminação da esquistossomose, uma infecção causada por vermes parasitas, nos próximos anos.

Atualmente, na América Latina e no Caribe, 59 milhões de crianças vivem em áreas de risco de infecção ou reinfecção por geo-helmintos, ou parasitas intestinais, e aproximadamente 5,7 milhões de pessoas estão infectadas com a doença de Chagas, com cerca de 70 milhões em risco de contraí-la.

Além disso, cerca de 68 mil novos casos de leishmaniose visceral foram notificados entre 2001 e 2020 em 13 países das Américas, e mais de 39,7 mil casos de leishmaniose cutânea e mucosa foram registrados em 2020 na América Latina e no Caribe. A leishmaniose visceral é causada por um parasita e é fatal em mais de 95% dos casos; a leishmaniose cutânea causa ulceração e resulta na destruição parcial ou completa das mucosas do nariz, boca e garganta.