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3.2 ATRIBUTOS PARA SELECIONAR FONTES SECUNDÁRIAS DE DADOS

Se os dados requeridos para elaborar o indicador a ser monitorado podem ser obtidos de fontes secundárias, antes de selecioná-las, devem ser consideradas as características dos dados, assim como as vantagens e desvantagens das fontes secundárias dos dados expostas no item 3.1. A seguir, são descritos os principais atributos para selecionar fontes secundárias de dados para elaborar indicadores de saúde de base populacional. No entanto, estes atributos podem e devem ser avaliados de acordo com o propósito para o qual os dados serão usados.

  • REPRESENTATIVIDADE POPULACIONAL: diz respeito à ausência de viés de seleção da população que se pretende representar com o indicador. Amostras não representativas (por exemplo, amostras por conveniência ou em unidades-sentinela) ou com índice elevado de falta de resposta ou subnotificação dos sistemas de informação podem comprometer a representatividade de determinadas fontes de dados. Por exemplo, o sistema de informação sobre nascidos vivos de um país é um sistema universal porque se supõe que abrange todas as crianças nascidas vivas, em qualquer tipo de estabelecimento ou local onde tenha ocorrido o nascimento. Contudo, sabe-se que o nascimento de crianças em situação de maior vulnerabilidade (oriundas das áreas mais pobres ou zona rural ou indivíduos sem moradia ou indígenas) pode não ser registrado neste sistema. Neste caso, existe um viés na representatividade desses grupos da população. De modo semelhante, as pesquisas sobre vítimas da violência a partir de amostras de unidades-sentinela (serviços de saúde de referência para esse tipo de assistência) podem não ser representativas da população, entre outros porque este tipo de amostragem exclui de forma sistemática as vítimas com ferimentos menos graves ou ferimentos fatais que não chegam a ser atendidas em um serviço de saúde.
  • PERIODICIDADE: os dados podem ser coletados de forma contínua, como no registro civil, registro de câncer, sistemas de vigilância de doenças de notificação compulsória; de forma periódica, a intervalos regulares (por exemplo, o censo populacional a cada 10 anos e as pesquisas com crianças em idade escolar a cada três anos) ou sem periodicidade predefinida; e de forma pontual, ou uma única vez (por exemplo, os inquéritos de saúde sobre assuntos específicos e as pesquisas acadêmicas). Os estudos pontuais de saúde são reconhecidamente uma fonte útil de informação importante para elaborar indicadores específicos, porém têm utilidade limitada no monitoramento dos indicadores a longo prazo. Ademais, várias pesquisas específicas dão uma ideia da tendência apesar de não terem comparabilidade metodologia ideal. Um exemplo são as pesquisas sobre a prevalência do tabagismo com métodos e populações-alvo diferentes que dão uma noção geral da tendência, porém sob certas limitações.
  • VALIDADE: é a capacidade da fonte de medir o que se pretende medir (ausência de distorções, vieses ou erros sistemáticos). Os vieses mais importantes são aqueles relacionados com a seleção da população objeto de estudo e a qualidade da informação coletada. A fonte deve conter as variáveis necessária para elaborar o indicador. Um exemplo é o sistema de informação sobre nascidos vivos que inclui dados sobre malformações congênitas (inclusive microcefalia). Em geral, as observações feitas no momento do nascimento, sem exames complementares nem acompanhamento das crianças, tendem a subestimar a prevalência de malformações congênitas. Apesar de o sistema ser bastante sólido como base de dados para uma série de outros indicadores, ele não tem validade para estimar a prevalência de malformações congênitas em crianças.
  • SENSO DE OPORTUNIDADE: diz respeito à disponibilidade e confiabilidade dos dados no momento em que se faz necessário elaborar os indicadores. Isso aumenta a possibilidade de elaborar indicadores oportunos para a tomada de decisão em saúde.
  • ESTRATIFICAÇÃO: muitos problemas relacionados à saúde requerem indicadores estratificados por subgrupo populacional ou por áreas de interesse. O grau de estratificação disponível na fonte de dados escolhida gera diversas interpretações analíticas. Estas considerações podem ampliar ou limitar consideravelmente o uso do indicador na tomada de decisão.
  • SUSTENTABILIDADE: é o potencial da fonte de continuar sendo relevante e manter a qualidade exigida para gerar informação com o decurso do tempo. Depende não apenas da periodicidade da coleta de dados, mas também da disponibilidade dos recursos financeiros necessários para manter esta fonte de dados em particular, do enquadramento legal e de vontade política entre outros. As pesquisas realizadas por telefone são mais sustentáveis porque precisam de menos recursos. Contudo, são limitadas comparativamente às pesquisas baseadas em entrevistas pessoais e medidas biométricas.
  • PRECISÃO: algumas amostras probabilísticas bem delineadas e com boa representatividade possuem certo grau de imprecisão que deve ser levada em conta em qualquer indicador obtido destas amostras. A imprecisão pode ser levada em conta, por exemplo, quando são calculados os intervalos de confiança que informam ao usuário (em geral, com 95% de confiança) os valores plausíveis de um determinado indicador para a população amostrada. Apenas as fontes de informação censitária, como censos populacionais, fontes de dados universais e sistemas de informação de estatísticas vitais, idealmente não apresentam imprecisão nos resultados.
  • ACESSO AOS DADOS: significa garantir a disponibilidade dos dados ao público em repositórios nacionais de dados e outr as alternativas.