OPAS, UNICEF e parceiros lançam relatório sobre influência do marketing das fórmulas lácteas em português

fórmula infantil

Brasília, 20 de maio de 2022 (OPAS) – À véspera do Dia Mundial de Proteção do Aleitamento Materno, celebrado neste sábado (21), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e parceiros lançaram a versão em português do relatório How marketing of formula milk influences our decisions on infant feeding - Como o marketing das fórmulas lácteas influencia nossas decisões sobre alimentação infantil. A publicação foi divulgada em um debate sobre o impacto da comercialização de substitutos do leite materno nas decisões sobre alimentação infantil e os avanços e desafios da implementação do Código Internacional sobre a Comercialização de Substitutos do Leite Materno nos países.

O relatório revela que mais da metade das mães, pais e mulheres grávidas (51%) consultados já foram alvo de marketing das empresas de fórmulas lácteas, que muitas vezes violam as normas internacionais sobre práticas de alimentação infantil. A pesquisa foi realizada com base em entrevistas com pais, mulheres grávidas e profissionais de saúde de oito países e mostra também as estratégias de marketing sistemáticas e antiéticas empregadas pela indústria de fórmulas lácteas para influenciar as decisões dos pais sobre a alimentação infantil.

O segundo relatório da série, intitulado Scope and impact of digital marketing strategies for promoting breast-milk substitutes (Escopo e impacto das estratégias de marketing digital para promover substitutos do leite materno – ainda não disponível em português), delineou as técnicas de marketing digital projetadas para influenciar as decisões que novas famílias tomam sobre como alimentar seus bebês.

De acordo com Leo Nederveen, assessor regional para Alimentação, Nutrição e Atividade Física em Escolas da OPAS, os relatórios "demonstraram que as técnicas utilizadas pela indústria aumentam a venda desses produtos, com um gasto maior que US$ 55 bilhões a cada ano para promovê-los" e, por isso, "são necessários esforços renovados para proteger mães, bebês e familiares da comercialização inadequada de substitutos do leite materno."

“Os resultados dessas duas revisões tornam ainda mais importante o monitoramento e avaliação periódicos da implementação nacional do Código Internacional, de modo que os países possam fortalecer suas medidas de controle de comercialização, incluindo as técnicas digitais”, complementou Nederveen.

A publicação Como o marketing das fórmulas lácteas influencia nossas decisões sobre alimentação infantil conclui que entre as técnicas de marketing da indústria estão a segmentação online não regulamentada e invasiva; redes de aconselhamento e linhas de apoio patrocinadas; promoções e brindes; e práticas para influenciar a formação e recomendações entre profissionais de saúde. As mensagens que mães, pais e profissionais de saúde recebem são muitas vezes enganosas, cientificamente infundadas e violam o Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno – um acordo histórico de saúde pública aprovado pela Assembleia Mundial da Saúde em 1981 para proteger as mães das agressivas práticas de marketing da indústria de alimentos infantis.

Em todos os países incluídos na pesquisa, as mulheres expressaram um forte desejo de manter a amamentação exclusiva. No entanto, o relatório detalha como um fluxo sustentado de mensagens de marketing enganosas está reforçando mitos sobre amamentação e leite materno e minando a confiança das mulheres em sua capacidade de amamentar com sucesso. Esses mitos incluem a necessidade de fórmula nos primeiros dias após o nascimento, a inadequação do leite materno para a nutrição infantil, que ingredientes específicos da fórmula láctea comprovadamente melhoram o desenvolvimento ou a imunidade da criança, a percepção de que a fórmula mantém os bebês saciados por mais tempo e que a qualidade do leite materno diminui com o tempo.

A amamentação na primeira hora após o nascimento, seguida do aleitamento exclusivo por seis meses e continuado por até dois anos ou mais, oferece uma poderosa linha de defesa contra todas as formas de má nutrição infantil, incluindo desnutrição aguda e obesidade. A amamentação também atua como a primeira vacina dos bebês, protegendo-os de muitas doenças comuns na infância. Também reduz o risco futuro das mulheres terem diabetes, obesidade e algumas formas de câncer. No entanto, globalmente, apenas 44% dos bebês com menos de seis meses de idade são amamentados exclusivamente. As taxas mundiais de aleitamento materno aumentaram muito pouco nas últimas duas décadas, enquanto as vendas de fórmula láctea mais que dobraram no mesmo período.

De forma alarmante, o relatório observa que um grande número de profissionais de saúde em todos os países foi abordado pela indústria de fórmula láctea para influenciar suas recomendações às novas mães por meio de brindes promocionais, amostras grátis, financiamento para pesquisas, reuniões pagas, eventos e conferências e até comissões de vendas, impactando diretamente nas escolhas alimentares das mães e pais. Mais de um terço das mulheres consultadas disseram que um(a) profissional de saúde havia recomendado alguma marca específica de fórmula para elas.

Para enfrentar esses desafios, a OMS, UNICEF e parceiros estão pedindo aos governos, profissionais de saúde e indústria de alimentos para bebês que acabem com o marketing explorador de fórmulas lácteas e que implementem e cumpram totalmente os requisitos do Código. Isso inclui:

  • Aprovar, monitorar e fazer cumprir as leis para impedir a promoção de fórmulas lácteas, de acordo com o Código Internacional, incluindo a proibição de alegações nutricionais e de saúde feitas pela indústria desses produtos;
  • Investir em políticas e programas de apoio ao aleitamento materno, incluindo licença parental remunerada adequada de acordo com os padrões internacionais, e garantir apoio de alta qualidade ao aleitamento materno;
  • Pedir que a indústria se comprometa publicamente com a total conformidade com o Código e as resoluções subsequentes da Assembleia Mundial da Saúde globalmente;
  • Proibir profissionais de saúde de aceitar patrocínio de empresas que comercializam alimentos para bebês e crianças pequenas para bolsas, prêmios, subsídios, reuniões ou eventos.