Mais de 90% das crianças do mundo respiram ar tóxico todos os dias

29 de outubro de 2018 – Todos os dias, aproximadamente 93% das crianças do mundo com menos de 15 anos (1,8 bilhão) respiram ar tão poluído que têm sua saúde e desenvolvimento expostos a graves riscos. Tragicamente, muitas delas morrem: a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2016, 600 mil crianças perderam a vida devido a infecções respiratórias agudas causadas por ar poluído.

Um novo relatório da OMS, intitulado "Air pollution and child health: prescribing clean air", examina a pesada carga tanto da poluição atmosférica (exterior) e interior, ou seja, no domicílio, para a saúde de crianças de todo o mundo, particularmente em países de baixa e média renda. O documento está sendo lançado à véspera da primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde.

O relatório revela que, quando mulheres grávidas são expostas ao ar poluído, têm mais propensão a dar à luz prematuramente e ter filhos pequenos, com baixo peso ao nascer. A poluição do ar também afeta o neurodesenvolvimento e a capacidade cognitiva e pode desencadear asma e câncer infantil. As crianças que foram expostas a altos níveis de poluição do ar podem estar em maior risco de desenvolver doenças crônicas no futuro, como as cardiovasculares.

 

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“O ar poluído está envenenando milhões de crianças e arruinando suas vidas”, diz Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Isso é imperdoável. Toda criança deve ser capaz de respirar ar puro para que possa crescer e realizar todo o seu potencial”, complementa.

Uma das razões pelas quais as crianças estão particularmente vulneráveis aos efeitos da poluição do ar se deve ao fato de elas respiram mais rapidamente que os adultos, absorvendo assim mais poluentes. Elas também vivem mais perto do solo, onde alguns poluentes atingem picos de concentração – no momento em que seus cérebros e corpos ainda estão em desenvolvimento.

Recém-nascidos e crianças pequenas também são mais suscetíveis à poluição do ar em residências que usam regularmente combustíveis poluentes e tecnologias para cozinhar, aquecer e iluminar.

“A poluição do ar está diminuindo o desempenho de nossos filhos, afetando sua saúde de mais maneiras do que suspeitávamos. Mas há muitas formas simples de reduzir as emissões de poluentes perigosos”, afirma Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública, Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde da OMS.

“A OMS está apoiando a implementação de medidas políticas voltadas para a saúde, como acelerar a mudança para combustíveis e tecnologias limpas, não poluentes; promover o uso de transporte mais limpo, habitação com eficiência energética e planejamento urbano. Estamos preparando o campo para geração de energia de baixa emissão, tecnologias industriais mais limpas e seguras e melhor gerenciamento de resíduos urbanos”, acrescentou.

Principais conclusões:

  • A poluição afeta o neurodesenvolvimento, levando a resultados cognitivos mais baixos, afetando negativamente o desenvolvimento mental e motor.
  • A poluição do ar está prejudicando a função pulmonar das crianças, mesmo em níveis mais baixos de exposição.
  • Globalmente, 93% das crianças do mundo com menos de 15 anos estão expostas a níveis de material particulado fino (PM2.5) acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS. São 630 milhões de crianças menores de cinco anos e 1,8 bilhão de crianças menores de 15 anos.
  • Em países de baixa e média renda em todo o mundo, 98% de todas as crianças menores de cinco anos estão expostas a níveis de PM2,5 acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS. Em comparação, em países de alta renda, 52% das crianças menores de cinco anos estão expostas a níveis acima das diretrizes de qualidade do ar da OMS.
  • Mais de 40% da população mundial – que inclui 1 bilhão de crianças menores de 15 anos – está exposta a altos níveis de poluição do ar no domicílio, principalmente com tecnologias e combustíveis poluentes.
  • Cerca de 600 mil mortes entre crianças menores de 15 anos foram atribuídas aos efeitos conjuntos da poluição do ar exterior e interior em 2016.
  • Juntos, a poluição do ar por cozimento nos domicílios e a poluição do ar exterior causam mais de 50% das infecções respiratórias agudas em crianças menores de cinco anos em países de baixa e média renda.
  • A poluição do ar é uma das principais ameaças à saúde infantil, sendo responsável por quase uma em 10 mortes entre crianças menores de cinco anos de idade.

A Primeira Conferência Global da OMS sobre Poluição do Ar e Saúde, que terá início em Genebra nesta terça-feira (30), proporcionará a oportunidade para os líderes mundiais; ministros da saúde, energia e meio ambiente; prefeitos; chefes de organizações intergovernamentais; cientistas; e outros a se comprometerem a agir contra essa grave ameaça à saúde, que encurta a vida de cerca de sete milhões de pessoas a cada ano. As ações devem incluir:

  • Ação do setor de saúde para informar, educar, fornecer recursos para os profissionais de saúde e se envolver na formulação de políticas intersetoriais.
  • Implementação de políticas para reduzir a poluição do ar: todos os países devem trabalhar no sentido de atender às diretrizes globais de qualidade do ar da OMS para melhorar a saúde e a segurança das crianças. Para conseguir isso, os governos devem adotar medidas como reduzir a dependência excessiva de combustíveis fósseis na energia global, investindo em melhorias na eficiência energética e facilitando a absorção de fontes de energia renováveis. Uma melhor gestão de resíduos pode reduzir a quantidade de resíduos que é queimada nas comunidades e, assim, reduzir a "poluição atmosférica da comunidade". O uso exclusivo de tecnologias e combustíveis limpos para atividades de cozimento, aquecimento e iluminação no domicílio pode melhorar drasticamente a qualidade do ar dentro das residências e na comunidade vizinha.
  • Etapas para minimizar a exposição das crianças ao ar poluído: escolas e locais de lazer devem estar distantes das principais fontes de poluição do ar, como estradas movimentadas, fábricas e usinas de energia.

Campanha BreatheLife

BreatheLife é uma parceria entre OMS, ONU Meio Ambiente e a Coalizão Coalizão Clima e Ar Limpo para reduzir os poluentes climáticos de vida curta e visa aumentar a conscientização e a ação sobre o tema por parte de governos e indivíduos.

Crédito da foto: Mostovyi Sergii Igorevich/Shutterstock.com