• Exame Tracoma
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Ações em Tocantins fortalecem estratégia do Brasil para eliminação do Tracoma

Brasília, 9 de setembro de 2025 (OPAS) — O Brasil segue avançando rumo à eliminação do tracoma, que é uma das principais causas infecciosas de cegueira no mundo. Como parte desse processo, entre julho e agosto, equipes de saúde realizaram buscas ativas de casos em comunidades indígenas do Tocantins, no norte do país. A ação-piloto ocorreu na Aldeia Funil, da etnia Xerente, no município de Tocantinópolis, realizada no âmbito do projeto de eliminação do tracoma como problema de saúde pública nas Américas, desenvolvido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e pelo governo do Canadá em 10 países da Região.

De acordo com Daniela Vaz Ferreira Gomes, consultora técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a experiência envolveu comunidades que haviam ficado de fora dos inquéritos nacionais anteriores. “Essa unidade de avaliação [Tocantins] não pôde entrar inicialmente no inquérito nacional porque foi uma população que já tinha passado por tratamento coletivo, então a gente teria que adotar uma outra metodologia, mas como se passaram mais de dois anos que esse tratamento foi realizado, ela foi incluída na proposta desse projeto”.

A busca ativa mobilizou equipes de saúde que permaneceram cerca de 20 dias em campo para examinar, tratar e orientar a população. O projeto-piloto junto à comunidade Xerente marcou o início da segunda etapa do trabalho. “A gente teve uma primeira. Após o resultado, identificou-se que algumas localidades apresentavam uma maior prevalência. Agora, a atividade retornou para ampliar essa amostra”, explicou o enfermeiro Leiderlan Dias Gama, ponto focal do projeto no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Tocantins.

Para a execução em campo, foram organizadas três equipes, cada uma composta por quatro integrantes: motorista, avaliador, registrador e agente de saúde indígena. Os profissionais receberam kits de apoio com equipamentos básicos de campo, materiais de proteção, insumos para registro e medicação. Entre os itens, estavam balança para pesar crianças e calcular a dose correta da azitromicina, medicamento fornecido pelo Ministério da Saúde dentro do Programa de Tracoma.

Os exames realizados durante a busca ativa permitem identificar tanto os sinais iniciais quanto os casos mais graves da doença. A bióloga Vanusa Alves, técnica da Secretaria de Saúde do Tocantins e examinadora na missão, detalhou como ocorre a avaliação: “fazemos a versão da parte superior do olho, para identificar folículos, que é o tracoma folicular. Para a triquíase, a gente vai examinar o olho também, procurar se o cílio está tocando na córnea”.

A percepção da comunidade também demonstra o impacto da iniciativa. O cacique Elson Xerente recorda que, anos atrás, antes das primeiras ações na região, o tracoma era praticamente desconhecido entre os moradores. “A gente na comunidade não sabia o que era o tracoma, nem qual era o problema que ele causava aqui. Foi a partir do momento em que vieram a campo fazer o trabalho que começamos a entender”.

O tracoma integra a lista de mais de 30 doenças transmissíveis e condições relacionadas que a OPAS busca eliminar até 2030 por meio da Iniciativa de Eliminação de Doenças. Para Sheila Rodovalho, oficial de Malária e Doenças Infecciosas Negligenciadas da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem grande potencial para atingir essa meta. “Além da Iniciativa de Eliminação de Doenças da OPAS, o país conta com o programa Brasil Saudável, instituído por decreto presidencial, que inclui 14 doenças, entre elas o tracoma, com objetivo de eliminação até 2030”.

A especialista destaca ainda que o projeto fortalece os esforços nacionais. Ele “se destaca por adotar, além da eliminação do tracoma, uma abordagem que considera gênero e interculturalidade”.

O alinhamento entre estratégias locais, nacionais e regionais também foi ressaltado pela superintendente de Vigilância em Saúde do Estado do Tocantins, Perciliana Joaquina Bezerra de Carvalho. “A nossa expectativa é de que realmente a gente consiga contribuir efetivamente para a eliminação do tracoma, não só no nosso território, mas no nosso país.”

O tracoma é uma infecção ocular transmitida pelo contato direto com secreções dos olhos e do nariz de pessoas infectadas. Sem tratamento, pode levar à cegueira e é considerado um problema de saúde pública em 40 países. Na Região, é endêmico em áreas rurais e remotas do Brasil, Colômbia, Guatemala e Peru, onde cerca de 5,6 milhões de pessoas estão em risco, afetando de forma desproporcional mulheres e crianças.

As ações de eliminação seguem a estratégia SAFE (na tradução do inglês significam: Cirurgia, Antibióticos, Higiene Facial e Melhoria Ambiental) da OPAS/OMS, que engloba cirurgias para corrigir a triquíase, tratamento com antibióticos (azitromicina) contra a infecção por Chlamydia trachomatis, promoção da higiene facial e melhorias ambientais para reduzir a transmissão de pessoa para pessoa.

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