Nova Iorque, 22 de setembro de 2025 (OPAS) – A necessidade urgente de abordar a interação entre as doenças infecciosas e as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), que em conjunto representam os maiores desafios de saúde pública nas Américas, foi destacada por Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em um evento realizado no contexto da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Coorganizada pela Fundação Mérieux, Weill Cornell Medical College, os Centros GHESKIO e a OPAS, a sessão intitulada “Encurtando a distância: Doenças crônicas não transmissíveis e infecciosas em um panorama global de saúde em transformação” reuniu especialistas globais em saúde na Weill Cornell Medicine para explorar soluções integradas rumo a um futuro mais saudável.
“As DCNT, principalmente doenças cardiovasculares, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas, são os maiores desafios de saúde pública do nosso tempo”, afirmou Barbosa. “Nas Américas, causaram 6 milhões de mortes em 2021, com 38% delas ocorrendo de forma prematura em pessoas com menos de 70 anos, durante seus anos mais produtivos.” Além disso, destacou que mais de 240 milhões de pessoas na região vivem com DCNT e necessitam de tratamento e atenção contínuos.
Barbosa enfatizou que fatores de estilo de vida como sedentarismo, alimentos ultraprocessados, obesidade, consumo de tabaco, poluição do ar e rápida urbanização alimentam essa epidemia. Também destacou o envelhecimento populacional como um importante motor das DCNT na região. No entanto, sublinhou um fator frequentemente ignorado: o vínculo bidirecional entre doenças infecciosas e DCNT, em que uma pode agravar a outra.
“Vivenciamos de forma dramática essa interação durante a pandemia de COVID-19, quando pessoas com DCNT eram mais suscetíveis à infecção e enfrentavam maior risco de doença grave e morte”, comentou. “Por isso, durante a pandemia, a OPAS priorizou a continuidade dos serviços para pessoas com DCNT, garantindo que as comorbidades fossem tratadas adequadamente”, acrescentou.
Um exemplo notável é a relação entre diabetes e tuberculose. “Uma condição agrava a outra, complicando tanto o diagnóstico quanto o tratamento”, explicou. “O diabetes aumenta a suscetibilidade à tuberculose e pode levar a resultados subótimos no tratamento ou a maior risco de resistência a medicamentos. Por outro lado, a tuberculose pode afetar o controle glicêmico, desencadear diabetes ou interferir no seu manejo devido a interações medicamentosas”, disse. Em áreas de alta carga, como o Peru, a OPAS trabalha para facilitar a detecção precoce e o manejo adequado de ambas as condições, utilizando as diretrizes globais sobre tuberculose e comorbidades.
Também foram abordados os cânceres de origem infecciosa. “O câncer do colo do útero, que afeta quase 80 mil mulheres anualmente nas Américas, é causado pela infecção persistente do papilomavírus humano (HPV)”, afirmou. “O HPV é uma infecção sexualmente transmissível e tanto a vacinação quanto a detecção são formas custo-efetivas de preveni-lo. A OPAS está ajudando os países a aumentar a cobertura para alcançar as metas de eliminação: 90% de vacinação contra HPV, 70% de rastreamento e 90% de tratamento.”
Da mesma forma, o câncer de fígado, associado às hepatites B e C, é abordado dentro do programa integral de imunização da OPAS. A Organização trabalha com governos e sociedade civil para vacinar recém-nascidos contra a hepatite B nas primeiras 24 horas de vida e promover o tratamento das hepatites B e C para prevenir o câncer hepático.
A ciência emergente também aponta para o papel do microbioma intestinal em DCNT como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. “As pesquisas indicam que o microbioma intestinal, incluindo os genomas bacterianos, influencia condições como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, distúrbios imunológicos e cânceres”, destacou. “Espera-se que a carga de DCNT associada a causas infecciosas aumente à medida que aprendermos mais sobre a microbiota”, acrescentou.
Além disso, Barbosa destacou que os determinantes sociais como pobreza e desigualdade impulsionam tanto as doenças infecciosas — incluindo HIV, tuberculose e hepatites — quanto as DCNT. “Abordar esses determinantes sociais é vital não apenas para prevenir doenças infecciosas, mas constitui um pilar fundamental para qualquer resposta efetiva às DCNT”, afirmou.
Para avançar do diálogo à ação, Barbosa fez um chamado aos países para fortalecer enfoques integrados de saúde que abordem conjuntamente as doenças infecciosas e as DCNT. Ele instou governos e parceiros a priorizar a detecção precoce de comorbidades, manter a continuidade da atenção durante emergências, ampliar intervenções custo-efetivas como a vacinação contra HPV e hepatite B e enfrentar as desigualdades sociais e econômicas que afetam os resultados em saúde. Esses passos são essenciais para construir sistemas de saúde mais resilientes, inclusivos e sustentáveis.
