Diretor da OPAS alerta para intensificação das ameaças climáticas à saúde nas Américas em conferência global no Brasil

 26 / 5,000 Casa destruída por furacão

Jarbas Barbosa pediu aos países que colocassem a saúde no centro das políticas sobre clima e garantissem o acesso ao financiamento climático antes das principais negociações da COP30

Brasília, 29 de julho de 2025 (OPAS) – Enquanto as Américas enfrentam temperaturas recordes, aumento de surtos de doenças e fenômenos climáticos cada vez mais destrutivos, o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Jarbas Barbosa, pediu ações urgentes para colocar a saúde e a equidade no centro da agenda climática.

“As populações em situação de vulnerabilidade sofrem com a maior carga desses impactos climáticos, embora sejam as menos responsáveis por eles”, alertou Barbosa. Suas declarações foram feitas durante a abertura da Conferência Global sobre Clima e Saúde de 2025, realizada em Brasília de 29 a 31 de julho e coorganizada pela OPAS junto ao Governo do Brasil e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Conferência é uma reunião oficial que ocorre previamente a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que também ocorrerá no Brasil (Belém, de 10 a 21 de novembro), onde países e partes interessadas deverão contribuir para o Plano de Ação de Belém para a Saúde, um roteiro para integrar a saúde à política climática global.

Barbosa descreveu o impacto que as mudanças climáticas já tiveram nas Américas. “2024 foi o ano mais quente já registrado na região desde 1900 e as ondas de calor são a ameaça climática mais mortal”, afirmou.

Além disso, incêndios florestais afetaram 70 mil pessoas na Bolívia, Brasil, Canadá e Chile; inundações afetaram 5 milhões de pessoas em 10 países, incluindo inundações catastróficas no sul do Brasil; e secas contribuíram para a insegurança alimentar e a má nutrição no Brasil e na Colômbia, onde 1,2 milhão de pessoas foram afetadas.

Os furacões afetaram mais de 4,5 milhões de pessoas no Caribe, América Central e América do Norte, causando danos a mais de 200 unidades de saúde. "O furacão Beryl foi a primeira tempestade de categoria 5 já registrada no Atlântico e devastou Granada e as ilhas vizinhas", explicou.

Enquanto isso, doenças relacionadas ao clima aumentaram em todo o continente no ano passado. A região registrou um número recorde de casos de dengue, chegando a 13 milhões, quase o triplo do total de 2023, com mais de 7.700 mortes", relatou Barbosa.

Dr. Barbosa at the 2025 Global Conference on Climate and Health
Crédito da foto: OPAS/OMS/Karina Zambrana

Principais estratégias da OPAS

Em resposta a essas tendências, o diretor da OPAS elogiou a abordagem do Plano de Ação de Saúde de Belém, que, segundo ele, "coloca a equidade em saúde no centro e prioriza a ação intersetorial e a participação social efetiva".

O Plano, acrescentou Barbosa, está alinhado com a Política da OPAS para fortalecer a atuação do setor da saúde orientada pela equidade em mudanças climáticas e saúde, adotada pelos Estados Membros da Organização em 2024. Essa política "se concentra em promover serviços de saúde resilientes ao clima e garantir o acesso à saúde para todas as pessoas, ao mesmo tempo em que reduz as emissões de gases de efeito estufa", afirmou.

O diretor da OPAS também enfatizou que tanto o Plano de Ação de Saúde de Belém quanto a política são coerentes com duas das principais estratégias regionais da OPAS: a Iniciativa para Eliminação de Doenças, que visa eliminar 30 doenças e condições relacionadas até 2030, e a Iniciativa para Melhor Atenção às Doenças Crônicas Não Transmissíveis.

"Ambas se concentram na equidade e abordam os determinantes sociais e ambientais da saúde", explicou. "Nesse contexto, a OPAS colaborou com reguladores e provedores de água para desenvolver planos de segurança hídrica e saneamento resilientes ao clima em 22 países, beneficiando 84,5 milhões de pessoas, sete milhões delas somente no ano passado."

Barbosa também destacou o apoio da OPAS aos países na construção de sistemas de saúde resilientes ao clima. "Estamos trabalhando com os Estados Membros para desenvolver planos nacionais de adaptação em termos de saúde, melhorar a infraestrutura de saúde, fortalecer a vigilância de doenças sensíveis ao clima e elaborar medidas-chave para antecipar, prevenir, preparar e responder a fenômenos relacionados ao clima e mitigar seus efeitos sobre a saúde."

Garantindo um financiamento climático acessível

Para fortalecer esses esforços, Barbosa enfatizou a necessidade de apoio financeiro. “Gostaria de destacar outro aspecto da política climática e de saúde da OPAS, bem como a posição oficial da Presidência brasileira na COP30: a importância de garantir financiamento climático oportuno e acessível”, afirmou.

“Investimentos eficientes e direcionados exigem uma análise sólida da situação e planos de desenvolvimento concretos”, acrescentou, observando que a OPAS está apoiando os países, tanto em nível nacional quanto subnacional, para conduzir estudos de viabilidade e elaborar investimentos destinados a reduzir as emissões do setor da saúde, melhorar a infraestrutura e fortalecer a capacidade de resposta precoce.

O diretor da OPAS também destacou os compromissos regionais para reduzir as mortes por poluição do ar. "Reconhecendo que a poluição do ar ambiental e domiciliar contribui para 24% das mortes por doenças crônicas não transmissíveis nas Américas, a OPAS e a OMS organizaram conjuntamente a Segunda Conferência Mundial sobre Poluição do Ar e Saúde em Cartagena, Colômbia, em março", disse. "Como resultado, os países se comprometeram a reduzir as mortes por poluição do ar em 50% até 2040."

Barbosa concluiu reafirmando o compromisso da OPAS com a implementação do Plano de Ação de Saúde de Belém em conjunto com seus Estados Membros, sociedade civil e parceiros filantrópicos e multilaterais. "A OPAS está bem posicionada para implementar as políticas mencionadas e o Plano de Ação de Saúde de Belém", afirmou. "Continuamos comprometidos em avançar juntos e explorar soluções inovadoras para desafios comuns."

Conferência Global sobre Clima e Saúde

A Conferência Global sobre Clima e Saúde de 2025 teve início hoje e será realizada até 31 de julho no Centro Internacional de Convenções do Brasil, em Brasília. Ela reúne representantes de governos, do sistema das Nações Unidas, de organizações filantrópicas e da sociedade civil para apoiar o desenvolvimento do Plano de Ação de Belém para a Saúde, cuja adoção está prevista durante a COP30. A Conferência também é um espaço para a reunião presencial anual da Aliança para a Ação Transformadora sobre Clima e Saúde (ATACH), liderada pela OMS, uma plataforma global para colaboração e compartilhamento de conhecimento sobre clima e saúde.

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