OPAS faz chamado para ação regional após Américas perderem o status de eliminação do sarampo

Measles patient

Washington, D.C., 10 de novembro de 2025 (OPAS) – A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) anunciou, nesta segunda-feira (10/11), que a Região das Américas perdeu a verificação de área livre da transmissão endêmica do sarampo.

A decisão segue a conclusão da Comissão Regional de Monitoramento e Reverificação da Eliminação do Sarampo, da Rubéola e da Síndrome da Rubéola Congênita das Américas, que se reuniu na Cidade do México de 4 a 7 de novembro de 2025 para revisar a situação epidemiológica da região. A Comissão determinou que a transmissão endêmica do sarampo foi restabelecida no Canadá, onde o vírus tem circulado por pelo menos 12 meses.

Como resultado, as Américas, que foram a primeira região do mundo a eliminar o sarampo duas vezes, perderam agora o status de área livre da doença. Todos os demais países continuam mantendo o status de eliminação do sarampo.

“Essa perda representa um retrocesso, mas é também reversível”, afirmou Jarbas Barbosa, diretor da OPAS. “Enquanto o sarampo não for eliminado em nível mundial, nossa região continuará enfrentando o risco de reintrodução e disseminação do vírus entre populações não vacinadas ou com cobertura vacinal insuficiente. No entanto, como já demonstramos antes, com compromisso político, cooperação regional e vacinação sustentada, a Região pode novamente interromper a transmissão e recuperar essa conquista coletiva.”

Situação atual

Até 7 de novembro de 2025, foram notificados 12.596 casos confirmados de sarampo em dez países — aproximadamente 95% dos casos concentrados no Canadá, México e Estados Unidos —, o que representa um aumento trinta vezes maior em comparação com 2024. Foram registrados 28 óbitos: 23 no México, 3 nos Estados Unidos e 2 no Canadá.

Surtos ativos estão em curso no Canadá, México, Estados Unidos, Bolívia, Brasil, Paraguai e Belize, em sua maioria desencadeados por casos importados. A transmissão tem afetado principalmente comunidades com baixa cobertura vacinal: 89% dos casos ocorreram em pessoas não vacinadas ou com status vacinal desconhecido. Crianças com menos de 1 ano de idade são as mais afetadas, seguidas pelas de 1 a 4 anos.

O surto de sarampo no Canadá começou em outubro de 2024, na província de New Brunswick, e desde então se espalhou por todo o país, com mais de 5.000 casos confirmados. Embora em declínio, a transmissão ainda persiste em Alberta, Colúmbia Britânica, Manitoba e Saskatchewan.

O sarampo é altamente contagioso: uma pessoa infectada pode transmiti-lo a até 18 outras pessoas. As complicações graves incluem pneumonia, encefalite, cegueira e morte. Os surtos também impactam a vida cotidiana e aumentam a pressão sobre os sistemas de saúde.

A vacinação continua sendo a forma mais eficaz de proteção. Nos últimos 25 anos, a vacina contra o sarampo evitou mais de seis milhões de mortes nas Américas e cerca de 15 milhões nos últimos 50 anos. No entanto, em 2024, a cobertura regional da segunda dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola – MMR2) foi, em média, de 79%, bem abaixo dos 95% necessários para prevenir surtos. Além disso, apenas 31% dos países atingiram 95% ou mais de cobertura para a primeira dose, e apenas 20% alcançaram esse patamar para a segunda.

Resposta e recomendações da OPAS

A OPAS continua prestando apoio técnico aos países para fortalecer a vigilância, o diagnóstico laboratorial, a resposta a surtos e as campanhas de vacinação. Especialistas estão apoiando in loco os países do México, Argentina e Bolívia, e a Organização está monitorando riscos em Belize, Brasil e Paraguai.

O diretor da OPAS,  Jarbas Barbosa ressaltou:

“Cada caso que prevenimos, cada surto que interrompemos salva vidas, protege famílias e torna as comunidades mais saudáveis. Hoje, em vez de lamentar a perda de um status regional, conclamamos todos os países a redobrarem seus esforços para fortalecer as coberturas de vacinação, a vigilância e a resposta oportuna aos casos suspeitos — alcançando todos os cantos das Américas. Como região, já eliminamos o sarampo duas vezes. Podemos fazê-lo uma terceira.”

A Comissão Regional de Verificação (RVC) recomenda fortemente que os países:

  • Continuem fortalecendo as atividades de vigilância, imunização e resposta rápida a surtos para cada caso suspeito;

 

  • Expandam e consolidem os registros eletrônicos de vacinação em todos os países, seguindo as diretrizes da OPAS;

 

  • Mantenham vigilância laboratorial sustentável, com recursos financeiros e humanos adequados;
  • Para casos suspeitos com fatores de risco clínicos e epidemiológicos e resultado negativo para IgM de sarampo (com amostras coletadas entre 0 e 3 dias após o início do exantema), realizem testes de PCR para confirmar ou descartar a infecção;
  • Implementem todas as recomendações até o nível local;
  • Documentem o encerramento dos surtos conforme as diretrizes do Marco Regional.

Perspectivas

As Américas já enfrentaram retrocessos anteriormente, incluindo a perda temporária do status de eliminação do sarampo na Venezuela (2018) e no Brasil (2019). A região recuperou o status de eliminação em 2024, em virtude de uma ação coordenada regionalmente.

Para recuperar o status de eliminação do sarampo, um país deve demonstrar interrupção da transmissão endêmica por pelo menos 12 meses consecutivos, apoiada por dados consistentes de vacinação, vigilância e resposta a surtos.

O Canadá apresentará e implementará agora um plano de ação dentro do marco regional da OPAS, com foco em aumentar a cobertura vacinal, reforçar os sistemas de vigilância e garantir resposta rápida aos surtos, com o objetivo de interromper a transmissão endêmica e recuperar o status de eliminação do sarampo.

“A cooperação, a solidariedade e a ciência são mais fortes do que qualquer vírus — porque, quando trabalhamos juntos, protegemos a saúde e a vida de todas as pessoas das Américas”, concluiu o Jarbas Barbosa.