28 de julho de 2025 (OPAS/OMS) — Jornalistas da Argentina, Brasil, Colômbia, Equador e México participaram de um workshop regional sobre jornalismo de soluções e segurança viária em Natal, Brasil, organizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) com o apoio da Iniciativa Bloomberg Philanthropies para a Segurança Viária Global. O evento proporcionou ferramentas para transformar a cobertura de sinistros no trânsito, abordando-os como um problema com soluções concretas.
Nas Américas, os sinistros no trânsito causam anualmente mais de 145 mil mortes e pelo menos 4,1 milhões de lesões não fatais, das quais mais de 638 mil são graves. Países em todo o mundo se comprometeram a reduzir pela metade as mortes e lesões no trânsito até 2030. Em nível regional, isso significa reduzir a atual taxa de mortalidade no trânsito de 14,09 por cada 100 mil habitantes para 6,73.
“As mortes no trânsito são apenas a ponta do iceberg”, disse Ricardo Pérez Núñez, assessor regional para segurança viária da OPAS. “Para cada morte, há 28 feridos, quatro com potenciais consequências permanentes”, acrescentou, enfatizando a necessidade de avançar em direção a “sistemas de trânsito seguros, sustentáveis, inclusivos e equitativos”.
A OPAS/OMS acredita na capacitação jornalística como um pilar fundamental para acelerar a mudança.
Jornalismo como força motriz para mudança
O workshop, realizado nos dias 22 e 23 de julho, abordou os principais desafios da segurança viária e promoveu uma abordagem sistêmica que transfere a responsabilidade pela segurança viária dos indivíduos para aqueles que elaboram políticas, infraestrutura e regulamentações. As soluções em destaque incluíram o design urbano compacto, a promoção do transporte público e a mobilidade ativa segura.
“Lesões no trânsito não são inevitáveis. São preveníveis e previsíveis”, enfatizou Victor Pavarino, oficial técnico de Segurança Viária e Prevenção de Lesões da OPAS/OMS no Brasil, destacando a carga desproporcional sobre pedestres, ciclistas e motociclistas, especialmente em comunidades vulneráveis.
Matthew Taylor, consultor de comunicação da OMS, sublinhou a importância da linguagem nas coberturas: "Usar 'sinistro' ou 'colisão' em vez de 'acidente' reflete que esses eventos são evitáveis". Ele também defendeu a contextualização dos sinistros, conectando-os a falhas sistêmicas, como a falta de infraestrutura ou regulamentação. "As notícias precisam acompanhar a ciência. A maneira como contamos essas histórias pode gerar apoio público para soluções estruturais que salvam vidas", disse.
Taylor também apresentou os princípios do jornalismo de soluções, uma prática que promove uma cobertura rigorosa e baseada em evidências de como as sociedades respondem aos problemas, em vez de focar apenas nas falhas. "Não se trata de ocultar os problemas, mas de mostrar quais respostas estão sendo implementadas, como funcionam, quais resultados têm e quais lições podem ser aprendidas", afirmou.
O workshop incluiu uma visita técnica para conhecer as intervenções urbanas implementadas pela cidade de Natal, como o sistema binário de trânsito, projetado para reduzir riscos e melhorar a circulação. Também foram apresentadas experiências de jornalistas e de familiares de vítimas que trabalham para transformar a dor em ação.
Uma rede regional em expansão
A capacitação faz parte de uma estratégia mais ampla liderada pela OMS e parceiros para fortalecer a cobertura sobre segurança viária no mundo. Mais de 3 mil jornalistas foram treinados globalmente. Na região das Américas, desde 2017, cidades como Medellín, Buenos Aires, Bogotá e, agora, Natal, sediaram esses workshops.
Por meio de exercícios práticos, participantes aprenderam a aplicar o jornalismo de soluções na cobertura cotidiana. "Não se trata apenas de registrar o que aconteceu, mas também de investigar como poderia ter sido evitado. Trata-se de passar de dados frios para a análise. Do foco em falhas individuais à exposição de falhas sistêmicas, que podem tomar medidas para proteger os usuários e reduzir as chances de lesões graves e mortes", pontuou Sebastián Oliel, especialista em mídia e comunicação da OPAS.
"Estou levando várias ferramentas de volta para a Colômbia, não apenas em termos de segurança viária, mas também na forma como abordamos essa questão", disse Nicoll Buitrago, jornalista do programa colombiano Noticias Caracol.
Por sua vez, Daiana Lombardi, do canal argentino Todo Noticias, declarou: “Com as políticas corretas, decisões tomadas a tempo, educação para motoristas e também multas e controles do Estado, milhares de vidas certamente poderiam ter sido salvas. Pessoalmente, (o workshop) despertou em mim a necessidade de promover mudanças a partir do meu pequeno lugar, de entender que tenho a chance de melhorar a qualidade de vida das pessoas, ou pelo menos tentar.”
