Países das Américas avançam em estratégia regional para enfrentar a ameaça à saúde causada por acidentes com animais peçonhentos

Venemous snake
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São Paulo, Brasil, 21 de agosto de 2025 (OPAS) – Países da América Latina e do Caribe avançaram em direção a uma estratégia regional para enfrentar o crescente impacto na saúde devido a acidentes causados por animais peçonhentos. De picadas de serpentes, escorpiões e aranhas a contatos com lagartas venenosas, esses incidentes acabam com centenas de vidas anualmente e deixam milhares de sobreviventes com deficiências permanentes, afetando principalmente comunidades rurais e indígenas.
 
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por meio de seu Centro Pan-Americano de Febre Aftosa e Saúde Pública Veterinária (PANAFTOSA), e com o apoio da Wellcome Trust, organizou a Primeira Reunião Regional de Programas de Acidentes por Animais Venenosos (REDPEVA) nos dias 21 e 22 de agosto, no Instituto Butantan, em São Paulo, Brasil.
 
Em uma mensagem de vídeo aos participantes, Jarbas Barbosa, diretor da OPAS, enfatizou a necessidade urgente de uma resposta unificada para prevenir "mortes e deficiências evitáveis" causadas por envenenamento devido a animais peçonhentos.
 
Dr. Jarbas Barbosa, Director of PAHO, addressed the meeting participant and stressed the urgent need for a unified response to avoid “preventable deaths and disabilities” caused by envenoming by venomous animals.
Muitos sobreviventes ficam com deficiências permanentes, como amputações e condições neurológicas e psicológicas que frequentemente resultam em perda de emprego e diminuição da produtividade. As consequências econômicas e de saúde também são significativas, especialmente para populações vulneráveis, e exercem pressão considerável sobre os sistemas de saúde pública.
 

Uma ameaça silenciosa e subnotificada à saúde pública

 
As estatísticas são alarmantes. Na América Latina e no Caribe, mais de 57 mil casos de picadas de cobra são notificados a cada ano, embora o número real seja provavelmente maior devido à subnotificação em áreas remotas e com acesso limitado a serviços de saúde.
 
De acordo com um levantamento recente do PANAFTOSA realizado nas Américas, os casos de envenenamento por escorpiões e aranhas aumentaram significativamente entre 2021 e 2024, com uma média de 198.647 e 48.345 casos por ano, respectivamente. Os acidentes por serpentes e lagartas permaneceram estáveis em 10,9 e 1,2 por cada 100 mil habitantes, mas ainda superaram os números de anos anteriores.
 
A cada ano, apenas os acidentes por cobras afetam 5,4 milhões de pessoas em todo o mundo, causando mais de 80 mil mortes e deixando três vezes mais pessoas com deficiência.
 
Barbosa observou que as mudanças climáticas estão agravando o problema, alterando padrões ecológicos e expondo novas comunidades a espécies venenosas. "Isso exige uma resposta regional coordenada e sustentada, baseada na abordagem de Uma Só Saúde", afirmou o diretor da OPAS, destacando a necessidade de colaboração entre os setores de saúde humana, animal e ambiental.
 

REDPEVA: um plano de ação

 
A reunião da REDPEVA lançou as bases para um roteiro regional com prioridades claras: construir uma rede colaborativa para compartilhar conhecimento, usar a tecnologia para mapear áreas de alto risco, padronizar a vigilância e melhorar o acesso a antivenenos.
 
O PANAFTOSA também apresentou novas diretrizes para o manejo do envenenamento por cobras e um curso virtual de capacitação para desenvolver habilidades essenciais nos profissionais de saúde.
 
Este esforço regional se alinha com o movimento global para combater o envenenamento por serpentes, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das doenças tropicais negligenciadas mais mortais. Em 2018, a Assembleia Mundial da Saúde adotou por unanimidade uma resolução provocando os Estados Membros a reduzir as mortes por envenenamento por serpentes em 50% até 2030. No ano seguinte, a OMS lançou sua Estratégia Global para a Prevenção e Controle do Envenenamento por Serpentes.
 

Para garantir o acesso a medicamentos essenciais e tecnologias em saúde, o Fundo Estratégico da OPS trabalha em uma estratégia para oferecer um caminho sustentável que permita a disponibilidade oportuna, eficaz, acessível e de qualidade garantida de antivenenos, transformando a estratégia em ação. Seu portfólio atualmente inclui 32 apresentações terapêuticas.

Este trabalho conta com o apoio da cooperação técnica com a PANAFTOSA e o Secretaria de Inovação, Acesso a Medicamentos e Tecnologias em Saúde (IMT), com o objetivo de harmonizar os protocolos de tratamento e as vias regulatórias, fortalecer o planejamento da demanda, facilitar as compras conjuntas e promover a fabricação regional; 22 países se comprometeram com essa iniciativa.

Alinhado a essa estratégia, o Dia Internacional de Conscientização sobre Envenenamentos por Serpentes, em 19 de setembro, busca chamar a atenção sobre a magnitude e o impacto do envenenamento por estes animais, especialmente em comunidades desatendidas.